30 outubro, 2011

Conte uma história




Como encontrar pérolas num mar de histórias... Como fazer textos e imaginação saírem dos livros...

Ser um bom ouvinte de si mesmo, do mundo e de outras pessoas. Sensível para ouvir e falar. Contar simplesmente porque gosta de contar pois o mais importante é a história.

Crianças, adultos, não importa, no fundo todos gostam de ouvir uma boa história.

27 outubro, 2011

Na Ilha De Lia, No Barco De Rosa




Chico Buarque

Quando adormecia na ilha de Lia
Meu Deus, eu só vivia a sonhar
Que passava ao largo no barco de Rosa
E queria aquela ilha abordar
Pra dormir com Lia que via que eu ia sonhar
Dentro do barco de Rosa
Rosa que se ria e dizia nem coisa com coisa

Era uma armadilha de Lia com Rosa
Com Lia, eu não podia escapar
Girava num barco, num lago, no centro da ilha
Num moinho do mar
Era estar com Rosa nos braços de Lia
Era Lia com balanço de Rosa
Era tão real, era devaneio, era meio a meio
Meio Rosa, meio Lia
Meio Rosa, meio dia
Meia lua, meio Lia, meio...

Era uma partilha de Rosa
Com Lia, com Rosa, eu não podia esperar
Na feira do porto, meu corpo, minh'alma
Meus sonhos vinham negociar
Era poesia nos pratos de Rosa
Era prosa, na balança de Lia
Era tão real, era devaneio, era meio a meio
Meio Lia, meio Rosa, meio...

Na ilha de Lia, de Lia, de Lia
No barco de Rosa, de Rosa, de Rosa









Capital Inicial




Dinho Ouro Preto (Vocal), Flávio Lemos (Baixo), Fê Lemos (Bateria) e Yves Passarel (Guitarra)

O Capital Inicial surgiu em 1982, formado pelos irmãos Fê Lemos (bateria) e Flávio Lemos (baixo), ex-integrantes do Aborto Elétrico, ao lado de Renato Russo, e Loro Jones (guitarra), oriundo da banda Blitz 64.

Em 1983, Dinho Ouro Preto, após um estágio como baixista da banda "dado e o reino animal" (assim mesmo, com letras minúsculas), onde também tocavam Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, entra para os vocais. Em julho estréiam em Brasília, tocando em seguida em São Paulo (SESC Pompéia) e no Rio de Janeiro (Circo Voador). Aliás, esta foi uma das características marcantes do início da carreira: as constantes viagens e apresentações nos principais palcos do underground do rock brasileiro.

Em 1984, assinam seu primeiro contrato fonográfico, com a CBS (atual Sony), e se mudam para São Paulo no inicio de 1985. Logo em seguida lançam seu primeiro registro em vinil, o compacto duplo "Descendo o Rio Nilo/Leve Desespero". Eletricidade, lançado em 1991, marca o início de mudanças no Capital Inicial, começando pela gravadora. O álbum, lançado pela BMG, trazia uma versão para "The Passenger", de Iggy Pop, batizada de "O Passageiro", e composições como "Kamikaze" e "Todas as noites". Neste mesmo ano, participam da segunda edição do festival Rock in Rio.

Em 1992, Bozzo Barretti deixa o grupo, e em 1993, divergências musicais e pessoais levam o vocalista Dinho Ouro Preto a seguir carreira solo. Em 1998 seus quatro integrantes originais decidem voltar aos palcos. Dinho Ouro Preto, Loro Jones, Fê Lemos e Flávio Lemos voltam à estrada com um novo show, uma comemoração aos 15 anos da banda e aos 20 anos do nascimento do rock candango. O repertório traz sucessos, faixas pouco conhecidas e composições de bandas que fizeram parte da cena de Brasília nos anos 80, como Plebe Rude, Legião Urbana e Finis Africae.

O último ano do século 20 começa com a banda se preparando para a gravação do Acústico MTV, que acaba ocorrendo em março. O disco é lançado dia 26 de Maio, e a primeira tiragem rapidamente se esgota nas principais lojas do Brasil. A primeira música escolhida para tocar nas rádios, "Tudo que vai", de Alvin L. e Dado Villa-Lobos, é amplamente executada em todo o país, e a banda vê reconhecido o seu empenho em fazer um disco acústico de rock simples, despojado, mas com a mesma atitude dos seus melhores discos. Isso fica claro em 2001, quando o sucesso "Natasha" explode entre as músicas mais executadas nas rádios de todo o Brasil e faz com que as vendas do disco alcançassem mais de 1 milhão de cópias, colocando assim o Capital Inicial como uma das maiores bandas do rock brasileiro.

Eu Nunca Disse Adeus é lançado em 2007, com uma sonoridade diferente, tanto melódica quanto vocal, onde Dinho Ouro Preto faz uso de seu timbre grave, não abusando dos gritos que permearam Gigante e o Especial do Aborto Elétrico.
Referência: Wikipédia






Discografia:
1986 - Capital Inicial
1987 - Independência
1989 - Você Não Precisa Entender
1990 - Todos os Lados
1991 - Eletricidade
1994 - O Melhor do Capital Inicial
1995 - Rua 47
1996 - Capital Inicial: Ao Vivo
1998 - Atrás dos Olhos
1998 - Remixes
2000 - Acústico MTV
2002 - Rosas e Vinho Tinto
2004 - Gigante
2005 - MTV Especial: Aborto Elétrico
2007 - Eu Nunca Disse Adeus

26 outubro, 2011

Uma questão de criatividade

Somente com a nossa poderosa língua coisas como essa são possíveis...


"Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir. Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém,pouco praticou, pois Padre Pafúncio pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas. Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris. Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos,porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, pois pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam,permanentemente, possantes potrancas. Pisando Paris, pediu permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precatar-se. Profundas privações passou Pedro Paulo.Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo...Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses. Passando pela principal praça parisiense, partindo para Portugal, pediu para pintar pequenos pássaros pretos. Pintou, prostrou perante políticos, populares, pobres, pedintes.
- Paris! Paris! - proferiu Pedro Paulo - parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir.
Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, Papai Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas. Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu:
- Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias?
- Papai - proferiu Pedro Paulo - pinto porque permitiste, porém preferindo,poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal.
Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro. Pisando por pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito. Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo. Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas.

Pobre Pedro Paulo, pereceu pintando..."
Permitam-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar...


(autor desconhecido)

23 outubro, 2011

Minerim e a Vaca Louca





A reporter começa a gravar:

"Boa noite, senhor. Nós estamos aqui para ouvir sua opinião.

Qual o Sr. acha que é a razão principal das vacas terem apanhado esta doença, "Vacas Louca"?"

O minerim olhou para a moça e respondeu:
"Ocê sabia que o touro come a vaca somente uma vez por ano?"

A repórter, visivelmente embaraçada, disse:
"Bem, senhor, eu não sabia.... informação interessante, mas o que isto tem a ver com a doença?"

"Ocê sabia que as vaca são ordenhada quatro veiz por dia?"

"Senhor, novamente agradeço a informação, mas porque não vamos diretamente ao ponto central da minha pergunta: a que o sr. atribui o fenômeno da vaca louca?"

O fazendeiro, já irritado, responde:
"Uai!!! Imagine se eu ficasse brincando
com suas tetinha quatro veiz por dia, e só trepasse cocê uma vez por ano, ocê tamém não ficaria louca???"

Casamento


TUDO É LINDO NO AMOR, a começar pela paquera entre os pombinhos, a fase do namoro, do noivado e finalmente o CASAMENTO , quando os noivos (e suas famílias) fazem de tudo para que a festança seja de primeira e prova disso é o exagero de alguns casais que optam por cerimônias exóticas (seria prá chamar a atenção?) como por exemplo os noivos que resolveram se casar no fundo de um aquário, ou então aquele casal que se dirigiu para a Igreja à bordo de um tanque de guerra e assim por diante…




Justamente por ver esta foto do tanque de guerra é que me lembrei de que já vi este filme antes, ou seja, muitos casamentos são lindos, criativos, emocionantes e etc, mas no final das contas acabam virando um campo de concentração, cuja definição mais adequada seria como se fosse uma espécie de um jogo especial, onde não se tem vencedor, nem perdedor, e muito menos se cogita um empate entre os cônjuges.


A verdade é que o resultado do jogo do casamento é, e sempre será, na base de OU GANHAM OS DOIS, OU PERDEM OS DOIS”.




Claro que nem todos os casamentos podem ser comparados ao tabuleiro de um xadrez…


ENTRETANTO, uma boa parte deles viram motivo de piada!!!

Ah, o amor!























































19 outubro, 2011

Tutu Marambá



Provavelmente oriundo da voz kimbunda kitutú (que quer dizer “papão”, conforme Cordeiro da Matta), o tutú, seja significando o espantalho de crianças, seja designando um mandão ou valentão (ou ameaça de violência), seja, enfim, indicando uma comida comum a maior parte do Brasil, divulgou-se por todo o nosso país, certamente graças a influência africana.

Pelo estudo que dele fez Valle Cabral, em suas preciosas “Achegas ao estudo do folk-lore brasileiro” (Gazeta Literaria”, 1884, págs. 346-350), sabe-se que na Bahia foi corporificado num porco-do-mato (caitetú ou catitú), talvez pela semelhança desse nome tupico com o vocábulo kimbundo.

Recebeu, quer ali, quer em outros pontos do Brasil, onde penetrou, vários acréscimos, que figuram em poesias populares, da Bahia (98) e de alhures. Assim é que passou a ser tutú-zambê ou tutú-cambê, tutú-marambaia, tutú-do-mato ou bicho-do-mato. Bicho, com efeito, no mais restrito dos seus sentidos de aplicação a seres fantásticos, é sinônimo de tutú.
Todos gostaram da história.



Tutu Marambá
Cantigas Populares
Tutu Marambá não venhas mais cá
Que o pai do menino te manda matar (repete)

Durma nenem, que a Cuca logo vem
Papai está na roça e Mamãezinha em Belém

Tutu Marambá não venhas mais cá
Que o pai do menino te manda matar (repete)

17 outubro, 2011

Os Bruzundangas







Bruzundanga era um país onde a nobreza se dividia de duas formas. Uma constituída pelos chamados doutores. Aqueles que tinham feito medicina, direito, engenharia e de todos que tinham tal pseudo. A outra era formada por novos ricos que de forma incomum adquiriam títulos. Iam à Europa e voltavam como conde, príncipes, princesas, lordes e todo o resto.

A política nesse país era cômica. Políticos eram nomeados pelo voto, mas quem votava não tinha a mínima idéia do que estava fazendo. O presidente tratado por Mandachuva e engajado na política através do sogro que o queria em bom cargo para as filhas, chegou à presidência graças à sua ignorância e logo que se viu empossado se cercou de sua “clientela”. Cargos eram entregues devido à beleza dos candidatos que deveriam saber dançar, cumprimentar e sorrir para impressionar os estrangeiros, sendo que esses eram de grande valor para os bruzundangas.

Nas escolas as crianças aprendiam que Bruzundanga era um país cheio de riquezas naturais, o que de fato era. No entanto, tais riquezas não eram aproveitadas. O que se podia produzir o povo comprava pronto.
A constituição da Bruzundanga foi feita por um pequeno grupo que se inspirou na constituição de Brobdining, o país dos gigantes. Porém, ela se afastou de tal princípio e passou a ser determinada a favor dos que estavam na “situação”, ou seja, os políticos e a constituição passaram a seguir favorecendo seus parentes e conhecidos.

A Força Armada era gentil, humana e pacifista. A sociedade era formada por médicos ricos, advogados, tabeliões, políticos, altos funcionários e daqueles cheios de empregos públicos. Ainda havia as filhas e mulheres dos que se enriqueciam pela indústria e pelo comércio, porém, esses industriais e comerciantes junto com suas famílias não constituíam a sociedade, sendo que essa nem se podia dizer existente devido sua inconstância. E de forma geral ela era medíocre.

Exemplos de heróis de Bruzundanga foi uma moça que se uniu a um estrangeiro que unido a rebeldes buscava a independência de uma província, outro herói foi um de seus mandachuvas que burlava a constituição e a declarava imprestável, outro herói foi o Visconde de Pacome que conhecendo a história e a geografia do país julgou conhecê-lo e trabalhava apenas em prol da imagem da Bruzundanga no exterior.

Vendo o comércio do país entregue nas mãos dos estrangeiros o sentimento de nacionalismo apoderou-se dos bruzundangas que tomaram o ensino prático, onde a prática era o ideal central, também a modernidade era importante. Os jovens eram inscritos em coisas como o curso de venda ambulante de fósforos e de venda ambulante de gazetas onde eles tinham que apresentar documentos comprovando que sabiam pegar bondes em movimento.

A religião predominante era a católica apostólica romana. Existindo muitos frade e monjas que, no entanto eram estrangeiros.
A província mais exaltada ali era a de kaphet. Onde a vaidade e o culto ao dinheiro eram gigantescos. Suas exposições de arte apenas mostravam reproduções de grandes artistas. Afirmavam que suas escolas tinham o melhor ensino. Apregoavam que a arte de escrever só cabia ao chics e ricos. Os artistas que pintavam eram extremamente ruins e não havia arquitetos bons.

Em Bruzundanga havia apenas uma representação teatral idêntica em todos os aspectos. Os sábios eram os que sabiam citar mais obras estrangeiras e aqueles que escreviam livros onde copiavam opiniões. Os médicos também eram considerados sábios e só escreviam em sânscrito. A música pertencia às mulheres. A indústria comprava a matéria prima do exterior e cobrava altos preços do povo. Assim era a República dos Estados Unidos da Bruzundanga.

Lima Barreto

14 outubro, 2011

Tipinhos


HOMEM- ABRE ALAS
Sabe o cara que quer porque quer te convencer a expandir seus horizontes? É o Abre alas. Ele faz você se sentir uma garota careta, provinciana para conseguir o que realmente quer. Ele quer ampliar seus domínios na seara do sexo. Se no começo ele te fez mulher com carinho e ternura, hoje ele te chama de lagartixa, mas isso não é o suficiente pro Abre alas. Ele quer sempre mais e só vai ficar satisfeito no dia em que você abrir geral. Ele quer tudo. Até aí tudo bem, se você for o tipo da Garota-quero ver a mangueira entrar, mas uma vez que ele consiga o que quer, o céu é o limite, aí o buraco fica bem mais embaixo e o Homem-abre alas pode virar um Homem-he man, bombado, de cabelinho louro sambando no Bloco das piranhas.



O HOMEM-CARMEM MIRANDA
Simpático e animado, o Homem-Carmem Miranda, também conhecido por Carminha é bastante óbvio para deixar dúvidas. Não, ele não deixa nenhuma e anda pra todo lado com cortes de tecidos cintilantes, muita pluma, muito paetê e retalhos de chita coloridas. O Carminha é uma ótima companhia para Bailes em cidades pequenas, onde tudo que você quer é alguém pra rodar o salão enquanto procura um “Homem-pierrô pra te beijar e te abraçar, meu amor”. Vai uma banana aí? Ele tem. Abacaxi? Ele tem. Vatapá? Oi Caruru? Ô se tem.

13 outubro, 2011

Jardim


Pois você não sabe que os jardins falam?

Quem diz isto é o Guimarães Rosa: "São muitos e milhões de jardins, e todos os jardins se falam. Os pássaros dos ventos do céu - constantes trazem recados. Você ainda não sabe. Sempre à beira do mais belo. Este é o Jardim da Evanira. Pode haver, no mesmo agora, outro, um grande jardim com meninas. Onde uma Meninazinha, banguelinha, brinca de se fazer Fada... Um dia você terá saudades... Vocês, então, saberão..."

É preciso ter saudades para saber. Somente quem tem saudades entende os recados dos jardins.
A natureza revela então a sua exuberância num desperdício que transborda em variações que não se esgotam nunca, em perfumes que penetram o corpo por canais invisíveis, em ruídos de fontes ou folhas... O jardim é um agrado no corpo. Nele a natureza se revela amante... E como é bom!

Mas não era bem isto que eu queria. Queria o jardim dos meus sonhos, aquele que existia dentro de mim como saudade. O que eu buscava não era a estética dos espaços de fora; era a poética dos espaços de dentro. Eu queria fazer ressuscitar o encanto de jardins passados, de felicidades perdidas, de alegrias já idas. Em busca do tempo perdido...

Uma pessoa, comentando este meu jeito de ser, escreveu: "Coitado do Rubem! Ficou melancólico. Dele não mais se pode esperar coisa alguma..." Não entendeu. Pois melancolia é justamente o oposto: ficar chorando as alegrias perdidas, num luto permanente, sem a esperança de que elas possam ser de novo criadas. Aceitar como palavra final o veredicto da realidade, do terreno baldio, do deserto.

Saudade é a dor que se sente quando se percebe a distância que existe entre o sonho e a realidade. Mais do que isto: é compreender que a felicidade só voltará quando a realidade for transformada pelo sonho, quando o sonho se transformar em realidade. Entendem agora por que um paisagista seria inútil? Para fazer o meu jardim ele teria que ser capaz de sonhar os meus sonhos...

Sonho com um jardim. Todos sonham com um jardim. Em cada corpo, um Paraíso que espera... Nada me horroriza mais que os filmes de ficção científica onde a vida acontece em meio aos metais, à eletrônica, nas naves espaciais que navegam pelos espaços siderais vazios... E fico a me perguntar sobre a perturbação que levou aqueles homens a abandonar as florestas, as fontes, os campos, as praias, as montanhas... Com certeza um demônio qualquer fez com que se esquecessem dos sonhos fundamentais da humanidade. Com certeza seu mundo interior ficou também metálico, eletrônico, sideral e vazio... E com isto, a esperança do Paraíso se perdeu. Pois, como o disse o místico medieval Angelus Silésius:


Se, no teu centro
um Paraíso não puderes encontrar,
não existe chance alguma de, algum dia,
nele entrar.

Este pequeno poema de Cecília Meireles me encanta, é o resumo de uma cosmologia, uma teologia condensada, a revelação do nosso lugar e do nosso destino:

"No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro:
no canteiro, urna violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta."

Metáfora: somos a borboleta. Nosso mundo, destino, um jardim. Resumo de uma utopia. Programa para uma política. Pois política é isto: a arte da jardinagem aplicada ao mundo inteiro. Todo político deveria ser jardineiro. Ou, quem sabe, o contrário: todo jardineiro deveria ser político. Pois existe apenas um programa político digno de consideração. E ele pode ser resumido nas palavras de Bachelard: "O universo tem, para além de todas as misérias, um destino de felicidade. O homem deve reencontrar o Paraíso." (O retorno eterno, p 65).

Rubem Alves

11 outubro, 2011

Canção do vento em minha vida


O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.

O vento varria as luzes,
O vento varria as músicas,
O vento varria os aromas...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De aromas, de estrelas, de cânticos.

O vento varria os sonhos
E varria as amizades...
O vento varria as mulheres...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres

O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.

Manuel Bandeira

Te morrirás primero

Te morirás primero, ya lo sé.
No creas que me importa.
Me vestiré de gala,
con los tacones altos miraré las estrellas
y andaré por las plazas como si fuera fiesta.
Ya verás,
cuando te mueras
irán nuestros amigos al entierro.

Habrá ramos, ofrendas,
un latido de pájaro golpeará las ventanas
y el altar se hará añicos durante el ofertorio.
Yo me pondré las gafas de no querer mirarte,
las de mirar el mar y verlo a mi manera.
Escucharé tus versos,
aquellos que escribiste antes de yo leerlos,
seguiré las estatuas
y me vendrá tu llanto y el amor que no tuve.

¿Te imaginas, amor?,

tú allí, muerto, tan solemne y tan quieto,
y yo un bullir de rosas en los bancos del fondo.
Yo, de rojo vestida, trenzas negras mi pelo
y las manos muy blancas acariciando espejos
por donde te has mirado.
Sin una sola lágrima.
Oculta por la pena que siempre fuera mía.

Pensando en tus caricias
y el júbilo perfecto de una siesta de sol
que nunca llegaría.
¿Te imaginas, amor?
Tus nietos, tus parientes,
y en el último asiento una hermosa muchacha
iluminado el arco de sus blancas axilas
por la luz de tus ojos.

Vendrán los oradores y hablarán de tu ingenio,
de tus muecas feroces,
de las horas amables en que ocupabas sitios,
lugares acordados.
Hablarán de tus gestos, de tu bufanda oscura,
del inconstante deleite de tu boca,
del mar que te ocupaba los momentos felices.
Llorarán los acólitos, las vírgenes de plomo,
los ángeles de cera.
Y nunca sabrá nadie que me he muerto contigo.

Elsa López

09 outubro, 2011

Cuidados




Tela: Nela Vicente
(click na imagem)



" Después de todo te amaré
Como si fuera siempre antes "
Pablo Neruba





Reguem as flores para que não murchem, sequem ou morram!
(Tal como o amor quando é deixado sem cuidados)

Medo de viver



(...) Uma madrugada sentiu-se tão incomodada, como se lhe faltasse um pedaço, que foi até o quarto de Das Dores, verificar se já tinha acordado.Encontrou a prima imersa, com a cabeça embaixo do cobertor.- Assim você sufoca! Precisa respirar bem, para poder descansar – avisou Anna, enquanto tomavam, apressadas, o café da manhã.Os olhos de Maria das Dores lacrimejaram.






Ela pareceu hesitar, mas diante da maneira franca de Anna, resolveu desabafar o que mantinha encerrado a sete chaves.- Eu tenho medo!- Medo? Como assim? De que?- Não sei... de tudo eu acho. É um problema sério. À noite, na escuridão, eu sinto pavor e só consigo fechar os olhos se me esconder embaixo do cobertor ...






Anna não respondeu, olhando a prima, surpresa com sua confissão.Das Dores deu os ombros.- Pois é isso! Já tentei de tudo, fiz análise por três anos, tomei todos os chás que me mandaram, tomo banho morno, nada adianta, não adianta! Até em terreiro eu já fui, porque disseram eu estava com encosto!- Mas você é tão corajosa em seu trabalho! Parece enfrentar muito bem os riscos!- É, eu sei...Fico possessa quando vejo a violência, homens que violentam e matam, crianças que são vítimas de tortura. Você sabia, Anna, que houve um caso em que a própria mãe jogou o bebê contra a parede, porque ele estava chorando?Parou, emocionada, procurando refazer-se.






Terminou de beber o café e encarou Anna.- Nesses momentos, eu me revolto e sou capaz de tudo mesmo e não tenho medo. Mas na hora em que estou só, no momento em que preciso dormir, eu sinto medo!Levantou-se e olhou através da pequena janela da cozinha.- Eu sinto que a maldade está tomando conta das pessoas, como se elas estivessem sendo pouco a pouco, incorporadas pelo mal. É como uma epidemia de vírus... pouco a pouco...está se espalhando!Virou para Anna, com a voz alterada.- A maldade está se espalhando! Não há limites para a dor e o medo. Por isso eu não posso parar para pensar. Porque eu sinto pavor dessa realidade...Não consigo dormir!Passou as mãos no rosto, onde uma lágrima havia escorrido.– Esta vida é uma merda, é por isso que não consigo dormir! Vida de merda, em um mundo de merda! E....






Ouviram batidas na parede da cozinha, feitas pelo vizinho.O rosto de Maria das Dores avermelhou-se.- Não tenho sequer uma vida minha, não há mais privacidade! – berrou, socando a parede e acrescentando que o mundo não passava de uma grande privada sem descarga. Saiu apressada, deixando Anna perplexa, espremida na pequena mesinha no canto da cozinha (...) ( Do livro "O Círculo" de Mirna Christhensen-MM)

02 outubro, 2011

Todo dia é dia de "bicho"



Quatro de outubro é o Dia dos Animais, a mesma data em que se festeja o dia de São Francisco de Assis.

E não é coincidência, pois esse santo é o protetor dos animais. Ele sempre se referia aos bichos como irmãos: irmão fera, irmã leoa.


"Chegará o dia em que os homens conhecerão o íntimo dos animais, e, neste dia, um crime contra um animal será considerado um crime contra a humanidade".
Leonardo da Vinci (1452-1519)


Declaração Universal dos Direitos do Animal


Art. 1º - Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência.


Art. 2º - O homem, como a espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los violando este direito; tem obrigação de colocar os seus conhecimentos a serviço dos animais.


Art. 3º - Todo animal tem direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem. Se a morte de um animal for necessária, deve ser instantânea, indolor e não geradora de angústia.


Art. 4º - Todo animal pertencente a uma espécie selvagem tem direito a viver livre em seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático, e tem direito a reproduzir-se; Toda privação de liberdade, mesmo se tiver fins educativos, é contrária a este direito.


Art. 5º - Todo animal pertencente a uma espécie ambientada tradicionalmente na vizinhança do homem tem direito a viver e crescer no ritmo e nas condições de vida e de liberdade que forem próprias de sua espécie; Toda modificação deste ritmo ou destas condições, que forem impostas pelo homem com fins mercantis, é contrária a este direito.


Art. 6º - Todo animal escolhido pelo homem como companheiro tem direito a uma duração de vida correspondente à sua longevidade natural; Abandonar um animal é ação cruel e degradante.


Art. 7º - Todo animal utilizado em trabalho tem direito à limitação razoável da duração e intensidade desse trabalho, alimentação reparadora e repouso.


Art. 8º - A experimentação animal que envolver sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de experimentação médica, científica, comercial ou de qualquer outra modalidade; As técnicas de substituição devem ser utilizadas e desenvolvidas.


Art. 9º - Se um animal for criado para alimentação, deve ser nutrido, abrigado, transportado e abatido sem que sofra ansiedade ou dor.


Art. 10º - Nenhum animal deve ser explorado para divertimento do homem; As exibições de animais e os espetáculos que os utilizam são incompatíveis com a dignidade do animal.



Art. 11º - Todo ato que implique a morte desnecessária de um animal constitui biocídio, isto é, crime contra a vida.


Art. 12º - Todo ato que implique a morte de um grande número de animais selvagens, constitui genocídio, isto é, crime contra a espécie; A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio.


Art. 13º - O animal morto deve ser tratado com respeito; As cenas de violência contra os animais devem ser proibidas no cinema e na televisão, salvo se tiverem por finalidade evidenciar ofensa aos direitos do animal.


Art. 14º - Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem ter representação em nível governamental;


Os direitos do animal devem ser defendidos por lei como os direitos humanos.

A bailarina