29 novembro, 2009

Pecados Intimos

O filme começa curiosamente, avança arrojadamente e termina magistralmente. A utilização de um narrador (Will Lyman) logo de início, provoca um inconsciente torcer de nariz, mas se mostra providencial, visto que não está a mais, nem comenta o óbvio, mas dedica-se a aumentar o nosso conhecimento das personagens, e é deliciosa também pela linguagem que utiliza enquanto cumpre essa missão.

Dentro da típica vidinha dos subúrbios, há duas almas insatisfeitas. Um homem e uma mulher. São ambos casados com outras pessoas, mas ao conhecerem-se por acaso (passeiam os filhos no mesmo parque infantil) ela sugere-lhe que a abrace para chocar as outras mães, criaturas fúteis e hipócritas que os espreitam de longe, e ele beija-a na boca. Está plantada a semente da mudança.

É uma história de adultério e intimidade, de sonhos perdidos e vontades prementes. É um filme de fugas para a frente e fugas para trás, é um filme onde nem sempre as fugas chegam a decolar.

E o casal adúltero mencionado não é a única linha de vida seguida. Seguimos também o itinerário de um psicopata sexual que se expôs uma vez a uma criança e regressou, após anos de internamento. E há um policial que gere uma milícia de bairro, de pais preocupados, cujo passado não é tão cristalino que lhe permita atirar a primeira pedra. Ninguém se comporta como deveria, ninguém tem um armário sem esqueletos, ninguém está satisfeito ou tem o que quer.

“Pecados Íntimos” é a desilusão da realidade, que faz mostrar o que poderia ser, mas não chega a ser. A coragem de se insinuar da prancha mais alta da piscina é desmentida quando volta a descer os degraus em vez de mergulhar. Mas não se pode criticar, as pessoas são assim mesmo.

26 novembro, 2009

Dona Baratinha

ra uma vez uma linda Baratinha.

Gostava de tudo muito limpo e arrumado.


Um belo dia, Dona Baratinha varria o jardim de sua casa quando encontrou uma moedinha. Ficou muito feliz!

Rapidamente, tomou um banho, colocou um vestidinho bem bonito, uma fita no cabelo e ficou na janela da sala de sua casa cantando assim:


"Quem quer casar com a Dona Baratinha,
que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?"
ogo, logo começaram a chegar os pretendentes.

O primeiro que passou foi o Senhor Boi, muito bem vestido.

Dona Baratinha perguntou então para ele:
- Que barulho o senhor faz quando dorme? E ele respondeu:

- Quando eu durmo, o meu ronco é assim - MUUUUU...........

- Saia já daqui! O Senhor me assusta com todo esse barulho!
Dona Baratinha voltou para sua janela, cantando a mesma canção.

"Quem quer casar com a Dona Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?"
Um tempo depois passou um jumento todo arrumadinho e falante, dizendo:

- Eu serei o marido ideal para a Senhora.


quando o senhor dorme, como é o barulho que o senhor faz?
- Eu faço assim - Ióh..Ioh...Ióh...Ióhooooooo.........
Assustada Dona Baratinha mandou que ele saísse e nunca mais passasse por lá para assustá-la novamente.


Depois de algum tempo,já desanimada, Dona Baratinha recebeu uma visita inesperada. Era o Senhor Ratão, muito falante e animado:


- Senhora Baratinha, estou muito apaixonado pela senhora e pretendo me casar logo, logo.

A senhora aceita?
Mais uma vez,Dona Baratinha perguntou:
- "Como o senhor faz para dormir?"
Senhor Ratão disse:
- Eu sou muito discreto em tudo que faço.

Até para dormir, meu ronquinho é muito baixinho e dificilmente eu ronco!

É assim:

- iiiihhhhiiiiihhhhhh.......


- Que maravilha! disse Dona Baratinha! Esse barulho não me assusta, até parece uma suave melodia. Com você eu quero me casar e tenho certeza que seremos felizes para sempre!!!!


Logo foram marcando a data do casamento e preparando a festa.

Dona Baratinha pediu para suas amigas Abelhas, Formigas e Borboletas prepararem uma gostosa feijoada, sucos de diferentes frutas e muitos doces!

No dia marcado, a noiva já estava esperando na igreja toda preocupada, porque todos os convidados estavam lá também, só faltava o querido noivo.


Corre daqui, pergunta dali e nada! Ninguém sabia do paradeiro do distinto cavalheiro.O que será que tinha acontecido com ele? Todos se perguntavam....

Acontece que Senhor Ratão era muito guloso.Não resistiu esperar pela surpresa da festa que a noiva havia lhe preparado. Então, aproveitando que todos já estavam na igreja ele foi até a casa das amigas de sua noiva onde tudo estava prontinho e arrumadinho e foi investigar os comes e bebes.

Quando sentiu o cheirinho apetitoso da feijoada, resolveu subir na panela e experimentar um pouquinho....
Acontece que Senhor Ratão perdeu o equilíbrio e caiu na panela do feijão! Como não tinha ninguém em casa ele não se salvou, morreu afogado dentro da gostosa feijoada!!!
uando soube do acontecido, Dona Baratinha triste ficou.

Voltou para sua casa e continuou a vidinha de sempre.

15 novembro, 2009

Bem sabia, experimentaria enfim

... em pleno a dor do mundo. E a sua própria dor de criatura mortal, a dor que aprendera a não sentir. Mas também seria por vezes tomada de um êxtase de prazer puro e legítimo que ela mal podia adivinhar. Aliás já estava adivinhando porque se sentiu sorrindo e também sentiu uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande de mais.

Sempre se retinha um pouco como se retivesse as rédeas de um cavalo que poderia galopar e levá-la sabe Deus aonde. Ela se guardava. Por que e para quê? Para o que estava ela se poupando? Era um certo medo de sua capacidade, pequena ou grande. Talvez se contivesse por medo de não saber os limites de uma pessoa.

E quando notou que aceitava em pleno o amor, sua alegria foi tão grande que o coração lhe batia por todo o corpo, parecia-lhe que mil corações batiam-lhe nas profundezas de sua pessoa. Um direito-de-ser tomou-a, como se ela tivesse acabado de chorar ao nascer.

Como? Como prolongar o nascimento pela vida inteira? Foi depressa ao espelho para saber quem era Loreley e para saber se podia ser amada. Mas assustou-se ao se ver. Eu existo, estou vendo, mas quem sou eu? E ela teve medo.

08 novembro, 2009

Roda-Viva

Trilha sonora do filme Cabra-cega de Toni Venturi/2004
arte respirando, dançando, vivendo arte.
Puro ser poesia do príncipio ao fim que não tem fim.



Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu

A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu

A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar

Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá


(Chico Buarque)


03 novembro, 2009

A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer

Sem fé, ouso pensar a vida como uma errância absurda a caminho da morte, certa. Não me coube em herança qualquer deus, nem ponto fixo sobre a terra de onde algum pudesse ver-me. Tão pouco me legaram o disfarçado furor do céptico, a astúcia do racionalista ou a ardente candura do ateu. Não ouso por isso acusar os que só acreditam naquilo de que duvido, nem os que fazem o culto da própria dúvida, como se não estivesse, também esta, rodeada de trevas. Seria eu, também, o acusado, pois de uma coisa estou certo: o ser humano tem uma necessidade de consolo impossível de satisfazer.
Como posso, assim, viver a felicidade?
Procuro o que me pode consolar como o caçador persegue a caça, atirando sem hesitar sempre que algo se mexe na floresta. Quase sempre atinjo o vazio, mas, de tempos a tempos, não deixa de me tombar aos pés uma presa. Célere, corro a apoderar-me dela, pois sei quão fugaz é o consolo, sopro dum vento que mal sobe pela árvore.
Debruço-me.
Tenho-a! Mas tenho o quê, entre estes dedos?
Se sou solitário - uma mulher amada, um desditoso companheiro de viagem. Se sou poeta ou prisioneiro - um arco de palavras que com assombro reteso, uma súbita suspeita de liberdade. Se sou ameaçado pela morte ou pelo mar - um animal vivo e quente, coração que pulsa sarcástico; um recife de granito bem sólido.
Sendo tudo isso, é sempre escasso o que tenho!
[…..}
Stig Dagerman, A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer - Fenda ed.1995

Ben Barnes









Alguém se lembra das Crônicas de Nárnia? Sim, não, deixa eu ver...
Alguém se lembra do Príncipe Caspian?
- Hummmmmm, sério? É ele? Ahhhh!!! Tá brincando, jura?
- Não acreditooooo, só pode estar de lero com a nossa cara. Imagina se aquele príncipe mal saído da pré-adolescência é tudo isso...
Ok, não querem acreditar, aciona o bendito google e se informem, afff!
(diálogo entre Eu, Eu mesma e meu botões, transcrito na íntegra para este post - gente teimosa!)
Que tal rever o filme com um olhar mais atento e critico, vale a penaaaaaa.

Vermelho


"Em breve caireis na terra amada, e nínguem saberá o vosso nome"
Eurípides, As Troianas

A bailarina