19 novembro, 2011

Rosinha, minha canoa


Ganhei o livro quando tinha 8 anos porque a minha professora achava que eu precisava ler mais e falar menos pois assim me concentraria mais nas aulas e blá, blá, blás que encheriam páginas.

Confesso que na época o que me lembro do livro era de adormecer antes do segundo parágrafo e dos bilhetes que minha mãe recebia da professora que a deixavam muito zangada comigo. Ah, e das surras, disso eu lembro!

Anos depois, uma outra professora, que gostava das minhas redações e da forma como eu contava histórias me indicou alguns livros, entre eles: Rosinha, minha canoa.

Lembro foi nessa época que meu amor pela leitura começou a florescer de maneira singular. Um primeiro olhar inviesado, depois outro e se acontecesse o "clic" acabariamos por nos apaixonar (eu e os livros). Caso contrário, não passariamos de uma única leitura e ponto final no relacionamento.

Rosinha, minha canoa, foi e é amor para a vida toda. Tantas vezes lido e relido, para mim mesma e para meus filhos. É desses livros que todos deveriam ler, ao menos é a minha opinião.

Rosinha, meu amor!

"- AH! Dona Chuva, estou com tanto medo de nascer...
- Bobagem... Vamos, eu ajudo!
Sua angústia renasceu e sua voz saiu meio trémula:
- Mas eu não sei nascer...
Os dedos de Dona Chuva apalparam o dorso e pararam em determinado ponto.
- Deve ser aqui. A casca está bem fininha: vou amolecer mais e você fará também um esforço...
Não disse mais nada. Foi contendo a respiração. Mais e mais. E ainda mais. Sentia que ia estourar. Devia estar quase roxa de tanto esforço. Alguma coisa se lhe abalava por dentro; deviam ser os bracinhos da folha.
A chuva disse novamente:
- Tente outra vez.
Forçou o ar de dentro e uma grande dor a estremeceu.
Parecia que se rachava a casca, de alto abaixo. A ponta de um dos seus braços projectou-se para fora.
- Ai que dor!...Ui! Que frio!...
A chuva riu grosso:
- É assim mesmo. Agora o outro bracinho.
Foi puxando o outro braço da folha e dessa vez já não sentiu doer tanto. E, mesmo, a vida fora da casca assemelhava-se a uma nova aventura: sentiu, então, curiosa sensação.
(...)
- Viu minha filha? Não é assim tão difícil nascer.
- Mas dói um pouco...
Se não doesse, a vida não teria preço. Agora trate de caminhar. Você precisa sair, andar, perfurar a distância que existe até ao outro lado. E você não tem prática, vai levar todo o resto desta noite.
(...)

José Mauro de Vasconcelos

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande livro de um grande autor, e concordo consigo, toda a gente o devia ler, em Portugal nós estudamos o texto que a senhora postou,mas na parte em que a água, explica a sua viagem, nós estudamos isso em ciências naturais. José Mauro de Vasconcelos não foi devidamente reconhecido como o belíssimo escritor que era.

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