As palavras que nunca te direi (Portugal) ou Uma carta de amor (Brasil) é um filme realizado em 1999 por Luis Mandoki. Foi baseado no romance homónimo As palavras que nunca te direi (livro) de Nicholas Sparks. Teve como protagonistas Kevin Costner, no papel de Garret Blake, Robin Wright Penn, no papel de Theresa Osborne e Paul Newman, no papel de pai de Garret. Foi filmado no Maine, Chicago e Wilmington, Carolina do Norte nos Estados Unidos da América.
Após um divórcio doloroso, Theresa Osborne (Robin Wright Penn) preenche sua vida cuidando de seu filho Jason e trabalhando como pesquisadora do jornal Chicago Tribune.
Certo dia, passeando pela praia, Theresa encontra uma garrafa contendo uma carta comovente e apaixonada, assinada apenas por "G".
A poesia e o sofrimento da carta atinge Theresa e a faz dar início a uma busca pelo autor, levando-a a Carolina do Norte.
Lá ela conhece Garret Blake (Kevin Costner), um construtor de barcos que desde a morte da sua mulher, carrega consigo a tristeza de uma vida solitária, exceto pelo relacionamento com seu pai, Dodge (Paul Newman), que tenta fazer com que seu filho pare de sofrer, e encontra Theresa uma nova chance do filho encontrar a felicidade.
Comentário: O filme acaba se tornando um dramalhão a partir do momento que os símbolos retratados no livro são colocados de lado.
Blake é um homem de natureza solitária e retrospectivo. Perde a mulher cedo e um tipo de remorso passa a guiar sua vida. Remorso pelas palavras que não foi capaz de dizer e pelas que gostaria de ter dito mas não teve tempo.
As cartas expressam os sentimentos e tudo que Blake não foi capaz de demosntrar em atos e palavras, ao colocá-las em garrafas e atirá-las ao mar o que ele está fazendo é mantendo seus sentimentos aprisionados e à deriva.
Ou seja, Blake é acima de tudo um egoísta que padece de sofrimento cronico e auto-comiseração. Não aprendeu nada nem mesmo quando conhece Thereza e nos dá a impressão de que está finalmente curado.
Ao salvar as pessoas que estão naquele veleiro sob o temporal que lhes seria fatal, Blake fica para trás, supostamente dando a vida para que outros se salvem.
Mais um simbolismo.
Blake é um exímio nadador, tem experiência e conhecimento porque é um homem do mar. Ao ficar para “trás”, ele está cometendo um suicídio voluntário porque não tem mais desculpas para evitar a sua entrega pessoal a um novo amor.
Ele deliberadamente escolhe abreviar sua vida ficando na tempestade pois não sabe como viver uma vida fora da garrafa e sem estar à deriva.
Thereza é o sonho que Blake ambiciona mas não confessa, pois confessá-lo seria abdicar do seu sentir silencioso e doloroso.
Desde o inicio ela se apaixona pelas palavras que não lhe pertencem, cria uma fantasia particular. Está só e sabe que aceitar o que ele pode lhe dar é amar em abandono. Não tem tempo de descobrir se essa aceitação poderia ser sustentada sem as cobranças de praxe.
A mensagem que tirei tanto do livro quanto do filme foi a mesma em todas as vezes que vi e reli a obra. O egoismo de pessoas que não se entregam numa relação porque são incapazes de amar e viver as suas emoções sem questionamentos. Não podem ser felizes porque precisam da dor e solidão para se sentirem donos de si mesmos.
Pessoas incapazes de perder o controle de suas emoções que buscam sempre as mil razões para não vencerem seus demônios pessoais e se entregarem. São indivíduos que amam demais e sofrem mais ainda, mas que não conseguem parar de olhar para dentro de si mesmas
e enxergarem o quanto fazem ou fizeram sofrer seus pares.
No final das contas, fica um sabor a nada e abandono, todos perdem. Todos represando sentimentos confinados em garrafas à deriva de si mesmos.
Entregar-se requer coragem para correr riscos.
Risco de amar e não ser amado na mesma medida, risco de se sentir só mesmo que a pessoa amada esteja ao nosso lado e não consiga nos tirar dessa solidão, risco de perdas e ganhos
E o pior risco de todos, risco de não se arriscar que é o mesmo que passar pela vida e não vivê-la.
Sobre a escolha do título para a tradução em português Brasil e Portugal, prefiro cartas de amor a represar palavras.
Nunca correrei o risco de não dizê-las ou escrevê-las - as palavras.