12 junho, 2007

Les Enfants Terrible (2) - Rosaleen Norton e H.R. Giger

ROSALEEN NORTON


Nascida na Nova Zelândia e criada na Austrália, a artista Rosaleen Norton (1917-1979) é uma das poucas a fazerem par com Austin Spare. Boemia, excêntrica e extraordinariamente talentosa, ela marcou o folclore urbano de Sidnei como “a Bruxa de Kings Cross”, por suas pinturas sobrenaturais, prenhas de satanismo e pornografia, numa presumida era de conservadorismo social e moral, nos anos 50.

Mas este era apenas um julgamento estreito que a cercou e que, infelizmente, a perseguiu durante toda a vida. Seu talento para o desenho se revelou precoce, pois ao 3 anos já rabiscava fantasmas com cabeças de animais e aos cinco jurou ter visto um dragão brilhante voando na cabeceira de sua cama.

Mais tarde, na escola secundaria, ilustrou “Dança Macabra” do conjunto Saint Saens, com vampiros, lobisomens e gárgulas. Sua orientação pagã foi logo notada pela direção da escola que não tardou em expulsá-la, sob a alegação de que “sua natureza depravada poderia corromper as outras garotas inocentes”.

Na adolescência, estudou arte com o famoso escultor Rayner Hoff, se tornou a primeira artista australiana de rua e começou a saltar de trabalho em trabalho – desenhista para uma industria de brinquedos, “assistente” em clubes noturnos, e até recepcionista e modelo. E foi nessa época que começou a se interessar e pesquisar Psicologia, Magia e Metafísica, indo fundo nas obras de Carl Gustav Jung, William James e ocultistas como Eliphas Levi, Madame Helena Blavatsky, Dion Fortune e Aleister Crowley.

Também descobriu técnicas para elevar a sua percepção artística: através da auto-hipnose, por exemplo, aprendeu a transferir voluntariamente a sua atenção para “planos interiores de excitamento místico”. Esses experimentos, como escreveu mais tarde, “produziram um numero de resultados peculiares e inesperados...e culminaram num período de percepção extra-sensorial mesclado a uma prolongada serie de visões simbólicas”.

Rosaleen Norton em 1977, costumava dizer que seus visionários encontros com as criaturas mágicas que passaram a povoar as suas pinturas eram extremamente reais. Mesmo sendo entidades como Zeus, Júpiter e Pan, usualmente associados a mitos e lendas da mitologia, portanto bem “longínquos” da realidade da maioria das pessoas, para ela eles representavam forças sobrenaturais, passiveis inclusive de casualidades, não eram simplesmente uma projeção da mente subconsciente ou da imaginação criativa.

Algumas das entidades mágicas que apareciam em seus trabalhos artísticos parecem representar híbridos atávicos – metade humana, metade animal, quase sempre nus – revelando os aspectos primevos da evolução espiritual da humanidade.

Certa vez, como Austin Spare, Rosaleen Norton começou a considerar sua arte como um veiculo para apresentar uma realidade alternativa e potencialmente muito mais impressionantes do que o mundo de aparências familiares.

Grande parte da arte de Rosaleen foi influenciada pelas escolas cubistas e modernistas, mas detêm uma imagem visionária muito forte e singular.

Foram publicadas inicialmente em 1952, num volume controverso intitulada “A Arte de Rosaleen Norton”, de co-autoria do poeta Gavin Greenles.

Embora atualmente seus desenhos não pareçam tão “confrontacionais”, na época causaram furor nos meios tradicionais e tradicionalistas dos anos 50, já que seu editor, Wally Glover, chegou a ser convocado e processado por tornar publico “imagens ofensivas à castidade e decência humanas”.

Examinado atualmente esta situação, fica claro que a admitida arte pagã de Rosaleen atingiu fundo toda a estreita e reacionária sensibilidade judaico-crista da época.

Como Austin Spare, Rosaleen Norton foi uma adepta da exploração de estados alterados de consciência nos quais ela teria seus visionários encontros com deuses.

Quando morreu em 1979, entrou para a lenda, embora por razoes errôneas. Em seus dias, perseguida por acusações de obscenidade – e também de “manipular massas negras” em seu abrigo da rua Kings Cross – Rosaleen Norton foi considerada uma marginal pagã e sua arte julgada bizarra e pornográfica.

Mas hoje podemos reavaliar seu trabalho sobre uma nova luz.

A característica mais marcante que fez sua arte tão chocante nos anos 50 foi ter ousado e trazido à luz imagens vindas das camadas mais profundas do nosso psíquico, imagens que, para a maioria de nos, seria muito melhor que fossem reprimidas ou esquecidas.

H.R.GIGER


















Mais conhecido por ser o criador do Alien, O Oitavo Passageiro,
Han-Ruedi Giger é nativo de
Chur, na Suíça, onde nasceu em 1940.

Diferente de Spare e de Rosaleen, não desenvolveu inicialmente sua arte visionária a partir de um tradicional conhecimento esotérico consciente. Ao invés disso, as formas artísticas evocadas de sua psique o guiaram crescentemente em direção a realidade mágica.

As imagens conjuradas por Giger freqüentemente tomam forma sob uma iluminação nebulosa e etérea, levando o observador a cavernas de pesadelo ou espaços mágicos de onde não há nenhum meio tangível de se escapar.

Quando criança, Giger costumava construir esqueletos de papelão, arame e gesso e tinha “um considerável mal gosto por vermes e serpentes” – repugnância esta que até hoje se manifesta em sua pintura.

Depois, já aluno da Escola de Artes Aplicadas de Zurique, ele começou a ficar fascinado por imagens de tortura e terror – um fascínio estimulado pela precoce visão de fotografias tétricas do cadáver do Imperador da China, assassinado em 1904, e ainda pelas lendas de Vlad, o Empalador – a figura histórica na qual Dracula, o Príncipe das Trevas, foi baseado.

Mais tarde, o artista foi influenciado pelos textos macabros de H.P; Lovecraft, especialmente seu Mito de Cthulhu e o Necronomicon.

O amigo e mentor de Giger, Sergius Golowin, foi quem sugeriu mais tarde justamente o titulo de Giger´s Necronomicon ao seu primeiro livro de arte, uma coleção de suas imagens visionarias e esotéricas, inicialmente publicado pela Baile, em 1977 – e depois com outras edições na Inglaterra.

Muitas das mais distintas pinturas de Giger retratam sua modelo principal, a linda atriz Li Tobler, com quem ele se encontrou em 1966, quando ela tinha 18 anos e vivia com outro homem e acabaram tornando-se amantes.

Li Tobler é o protótipo para as muitas mulheres torturadas, mas etéreas, que habitam suas pinturas, fazendo par atormentado com serpentes,
agulhas e sufocantes cavernas-prisão formada
por estruturas ósseas – já prenunciando seu estilo “biomecânico” que o tornou famoso mais tarde.





O próprio corpo de Li serviram várias vezes de tela aos aerógrafos de Giger e existem diversas fotos mostrando-a posando nua, como uma mulher misteriosa emergindo de um pesadelo que possuiu a sua alma.

Infelizmente, a vida de Li Tobler foi realmente curta. Atormentada por uma estressante vida de viagens com seu grupo de teatro por todo o país e perturbada emocionalmente pela sucessão de outros amantes, ela suicidou-se em 1975, com um tiro de revolver.

Giger vive hoje numa atmosfera que evoca simultaneamente um senso de magia e de paranóia. A sala principal de escadarias em sua casa de dois andares e terraço, tem as paredes cobertas por telas impressionantes, exibindo mulheres tipo Medusa, de peles fantasmagoricamente alvas, cabelos de serpente e com seres estranhos se enroscando em volta de seus voluptuosos corpos.

class="MsoBodyText">Garras, agulhas, metralhadoras, espinhas e outras estruturas ósseas também constituem o aspecto central da iconografia visual de Giger.
O Oscar que premiou H.R. Giger pelos efeitos especiais de Alien, divide espaço nas estantes com um amontoado de crânios, caveiras e até autenticas cabeças encolhidas e mumificadas de uma tribo canibal.

Pairando sobre todo o cenário em que reside, um grande painel apresentando um demônio com chifres, um pentagrama prateado e muitas serpentes negras e hostis.
Indagado sobre suas “afiliações com o ocultismo” ele confirmou que, embora tenha estudado os escritos de Aleister Crowley, não pratica rituais nem se envolve com invocações de espíritos.

Austin Osman Spare e Rosaleen Norton foram influenciados por feitiçaria e tradições ocultas da magia oriental, ambos valeram-se de estados de transe e ambos acreditavam que o mundo dos deuses tem a sua própria intrínseca existência – servindo o artista apenas como veiculo de manifestação das energias arquetipicas, um canal inspirado.

A arte de H.R.Giger por sua vez, não deriva de estados de transe, mas flui de toda forma, de um tipo de exorcismo da alma.

Um comentário:

Sebastião Gonçalves de Souza disse...

GRANDE MATERIA! PARABENS!

A bailarina