11 janeiro, 2007

O Corvo



O Corvo

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais
- Eu o disse, o nome dela, e o eco disse os meus ais,
Isto só e nada mais.
Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.
Meu coração se distraia pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."
... ...Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito", a mim disse,
"deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te.
Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces,
e que faz esses teus ais!" Disse o Corvo,
"nunca mais".


Edgar Alan Poe
tradução em versos rimados por Fernando Pessoa
Foto:
Nicoletta Ceccoli

Um comentário:

Anônimo disse...

Esta fotografia é excepcional! Já a tinha visto no site da fotógrafa! E fiquei fascinada! Boa escolha!
Beijinho

A bailarina