23 janeiro, 2012

Corridinho


Também ando assim, querendo ir para longe dos lugares e das pessoas que julguei me fariam feliz. Tudo o que vejo me mostra um buraco, só enxergo o que não está ali. Calada como quando se deve estar calada, hoje a única poesia que me serve é a poesia seca e altiva de Adélia Prado.
Fica registrada aqui por nos sentirmos tão iguais.
Corridinho -
A.Prado
O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelâ.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.

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