16 dezembro, 2008

Conchinhas



Gosto ds praias de inverno.

São mais bonitas, tranquilas, areias brancas, lisas e quase solitárias.Quase ninguém. Parece que os homens têm medo da solidão. Gostam mais do falatório, do agito, do som, de gente rolando e sujando areias...

Se esquecem do barulho do mar, do vento fazendo eco. As gaivotas não se assustam, apenas dão licença à passagem de quem anda por ali esquecido. Seus filhotes estão aprendendo a pescar seu alimento, ainda são cinzas e inocentes em relação aos barulhos dos depredadores.

Caminhar por praias de inverno sempre permitem que os pensamentos vvenham mansamente. Águas vivas mortas , eram bonitas vivas, flutuando transparentes... Caranguejos, andando de lado, fugindo para os buracos sob as pedras. Parecem-se com certas pessoas que não conseguem andar para frente...

- Catar conchinhas.

Ah, como é bom catar conchinhas. É a alma, grande mar, que nos trás às mãos as conchas que vamos pegando e guardando pela vida, assim, como guardamos pensamentos

Sempre catei conchinhas, faço isso até hoje. Alguns pensamentos vou escrevendo em folhas e cadernos que vou guardando, como as conchinhas.

Seria bom que pessoas que gostam de catar conchinhas e pensamentos lessem Cadernos da juventude, de Camus. Ali, ele anotava o vôo dos pássaros, uma trovoada, uma nesga azul no céu de tempestade, uma citação que lhe vinha à cabeça, um diálogo entre marido e mulher. Nietzsche também colecionava conchinhas que ele transformava em aforismos.

"O que torna a conchinha importante não é o seu tamanho mas o fato de que alguém a cata da areia e a mostra para quem não a viu: Veja... Literatura é mostrar conchinhas..."

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A bailarina