23 janeiro, 2007
Poema de Che Guevara para a sua mulher
Este poema (contra o vento e as marés) levará minha assinatura.
Deixo-lhes seis sílabas sonoras,
um olhar que sempre traz (como um passarinho ferido) ternura,
Um anseio de profundas águas mornas,
Um gabinete escuro em que a única luz são esses versos meus,
um dedal muito usado para suas noites de enfado,
um retrato de nossos filhos.
A mais linda bala desta pistola que sempre me acompanha,
a memória indelével (sempre latente e profunda) das crianças
que, um dia, você e eu concebemos,
e o pedaço de vida que resta em mim.
Isso eu dou (convicto e feliz) à revolução.
Nada que nos pode unir terá força maior.
Poema de Che Guevara para a sua mulher.
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio Andrade
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